The New Yorker

Distante do lugar onde nasceu e sem muita coisa para contar. O que fez de sua vida desde então? Nada poderia ser mais terrível que o segredo de Fábio. Já não era mais um garoto. Tantas decepções o fizeram crescer mais rápido que muita gente.

Como muitos outros de origem pobre, Fábio não era humilde. O orgulho subia-lhe pelas pernas ao reafirmar que a luta travada dos últimos anos deu o fruto que desperta tamanho furor. Suas histórias não são conhecidas. As frases estagnaram no tempo em que se comportava como uma pessoa normal e feliz.

E o que é normal? Onde tiraram esse termo? Engraçado que quanto mais se luta para ser diferente, mais se quer parecer normal. A diferença é que uns atuam e outros assistem passivo a força alheia. E ninguém nunca poderá questionar se o que fez foi certo ou errado.

Cativa a quem o vê. Alto e esguio, com olhos felinos e jeito galanteador de andar. Os ombros largos e pele morena, uma intersecção entre o moreno e o negro. Não há quem não queria ser como ele.

Mas de onde vem essa força? Os passos firmes de quem sabe que sobreviver não é uma questão física. Sua constituição vai além. Um extra-terrestre no meio de tantos outros. Como ser super-homem em seu próprio planeta?

Mas seu segredo era muito grave. Quantos de nós não os guardamos nas gavetas da memória? Tem um ditado irlandês que diz que um segredo só pode ser guardado por três se dois estiverem enterrados. E Fábio teve de sujar as mãos para que esta lembrança fosse intocada. Pelo tempo, pelas palavras.

No dia de sua despedida resolveu compartilhar comigo o que tanto levava consigo. Não me contive. Sabia que era o meu fim. E foi então que descobrir como só ele sabia voar.