Relato crivo em primeira pessoa

Um dia escreverei uma sinfonia. Bem, não sou músico, mas guardo minhas ambições para a velhice. Também não sei ao certo se chegarei a completar os distintos cinquenta anos. Assim como meu pai que morrera aos quarenta e três. Fazem dez anos que não sei o que é sexo com um ser vivo. Tenho determinações insanas de morte. Fantasias nefastas. Trabalho no IML até a meia noite. Depois costumo ir às terças, quartas e domingos à escuridão do bar. É tranquilo e o ambiente parece simpático. Parei de ir nos outros dias por conta das intermináveis despedidas de solteiros. Prefiro sangue frio. À sangue frio. Meu psiquiatra recomendou-me que todo o acesso incontrolável que surgisse, eu deveria pegar algo para escrever. Desde então não me separo do palm top. Estou terminando meu diário. São quatrocentos e setenta e duas linhas de sms que envio à mim mesmo. Estou cansado. Semana passada recebi uma ligação anonima. Tenho certeza que foi Samara, minha irma mais nova. O telefonema dizia que a mulher que me pariu, vulgo minha mae, havia voltado para a clinica de reabilitação. Novamente. Gostaria de ter crescido em uma família normal. Com café da manhã, sorrisos e uma saudação de boa aula no final da conversa. Coloque o gato para fora. Não quero continuar assim. O destino, cada vez mais, indeterminado, causa desconforto à minha'lma. Estou farto. Os corpos chegam dilacerados. Tenho de fazer a limpeza. Depois a costura. Deixá-los bonitos. Não resisto ao rosto bonito. A pele suave. A palidez da morte. Já decidi: será um réquiem! Nele contará a história de um homem e uma mulher. Vítimas de seus próprios desejos. Um tentará a morte. O outro cumprirá a promessa de matá-lo. Terminarão em um frenesi intenso, entre suas pernas será encontrado a arma do crime. No líquido sujo do sexo, a faca. Trinta e sete aberturas produzidas pela lâmina divididas nos dois corpos. Um ponto final.