'Meu orgulho me deixou Cansado...'

Acordei cedo. Fiz as malas. Não esqueci nada. Acho. Tem tempo que não saio para passear. Os últimos dias tem sido tão distantes, que me perco entre linhas e agulhas. Escutei uma canção nova, uma vez, que fez muita coisa se movimentar. Mas desde então, nada de novo surge.

Onde estava? Me achei... Na mala. Pois bem, estava preparando os vidros de perfume. Ninguém gosta de sentir cheiro demais na roupa, principalmente depois de perceber o vidro inteiro vazio. E estava cheio no início. As roupas delicadas, coloquei em cima. Para não amassarem. Minha cueca de ceda importada também. Roubei há alguns anos de um namorado francês. Ele tinha um perfume tão bom. E gostava de me enroscar em seu corpo para dormir. Tem coisas que só o cheiro une...

Não posso esquecer os livros! Tem que ter espaço pelo menos para dois. Os outros vou deixar para os colegas que ficam. As vezes eles podem usar. Nem que seja para limpar a boca, como guardanapo, sabe. Gosto de livros. Como um todos os dias, ou quase, mas não vem ao caso. Teve um que roubei de um amigo querido e nunca devolvi. Vou levá-lo, por que nunca o li. Sério! Passei anos com ele e nunca o li. Acho que é medo. Se acabar, talvez eu tenha que devolver... Aliás, parei de sair depois dele. Do amigo, não do livro. O livro parece ser legal. Vou tentar experimentá-lo mais tarde.

Levo na bagagem de mão maquiagem, pra sempre ficar bonita. Tive um namorado uma vez, que dizia que a cor cereja fica muito vibrante nos meus lábios que, aliás, são carnudos. Bem... não preciso dizer isso... er... Nesta necessèrie também carrego um pequeno bloco de notas. Não é muito grande e só dá pra escrever frases de duas palavras. Tem uma lâmpada na capa e algumas páginas rabiscadas. Nunca se sabe o que pode surgir no meio do caminho, não é verdade?

Vou deixar todos os espelhos. Sei lá, mamãe diz que sou muito orgulhosa. Quero deixar isso aqui. Já estou cansada de agir tão... tão... como é que se diz?... deliberadamente! É, deliberadamente... Adoro mente em palavras. Deixam as frases mais... inteligentes. É isso. E eu adoro me sentir inteligente. Aliás, foi como tudo começou... De forma inteligente, pragmática, intuitiva! ... mas...

"Sara, querida, vamos. Já está na hora de voltar para o repouso."

"Já vou."

"Só estava arrumando a mala."

"Sim, minha querida. A mala, sim. Deixa para depois, ok? Está na hora dos seus remédios."


"Não gosto de remédios."

"Sim, querida. Mas é para evitar... você sabe, não é?"

"Eu sei, eu sei... Mas depois vou poder visitar a mamãe na chácara?"

"Poderá sim, querida. Depois do remédio, ok? "