Um causo, eu te conto!


Acordo bem cedo, mesmo assim o café já não está mais na mesa. Aqui as pessoas acordam antes da aurora. E deve ser por isso que se comportam de maneira tão sadia. A mãe pergunta se está tudo bem. Respondo com cara de enxaqueca e vou logo tomando o remédio. O chá é a melhor opção, mas prefiro o paracetamol. O dia estava muito quente para se ficar em casa. Então ainda com o sol das oito pego Marley no colo e pergunto se quer andar de bicicleta. "Vamos então!", vamos. O mp3 na cintura, uma calça colada preta com uma blusa bem aberta a tira colo e uma câmera fotográfica de bônus no pescoço.


Seguimos em direção ao pequeno colégio. Lá não tem muros. Esta é a razão principal para que João, o pai dos meninos, resolvera matricular-los um pouco mais distante de casa. 'Sabe, um colégio tem que ter regras, e se não tem muro, como as crianças vão brincar no recreio sem que nada aconteça a elas?'. Concordo, em partes. Seria interessante estudar olhando para um janela que dá de frente a 'movimentada' ruazinha de Brasil Novo. Mas não era sobre isso que estava falando.
Depois da primeira curva, onde tem um orelhão telemar que mal funciona, passamos em frente ao Buteco do Pereira. Os homens ainda estão no trabalho e o local se encontra apenas com cachorros em frente. Estão desnutridos, mas não perdem tempo ao ver-nos de bicicleta e nos seguem por alguns instantes. Marley tá bem mais rápido que eu, e começo a preocupar-me com isso. Meus pulmões respiram o ar puro, literalmente. E, então, transpiro. Fico em estado ofegante. É quando resolvo parar com a desculpa de ter visto uma árvore bonita. O menino se convence quando pego a câmera e vou logo apontando para meu objeto. "Tira uma foto minha?". Dou uma desculpa que farei isto mais tarde e ele se satisfaz. Por enquanto.


Já estamos bem longe de casa. Subimos uma ladeira ingrime. Foi neste ponto que tive de descer da minha montaria. Estou cansada. O sol subia rápido quando percebi que já se passava das dez. Corremos muito para alcançar o almoço que estava quase no ponto. O sapequinha foi correndo pra mesa com a desculpa que tava morrendo de fome. Mas era só molequice. A mãe vai logo gritando que temos de guardar as bicicletas e lavar as mãos. Ele obedece a segunda ordem, enquanto vou fazer jus da primeira. Guardo a bicicleta, e resolvo olhar pra trás. Lembrei onde estava, na terra sem lei, e dos avisos alarmados dos amigos que me preveniram para não ser tão indulgente fora de casa. Mas para que desculpar-me com a minha memória. É só mais um dia de calor com estórias de terra com árvores gigantes.