A senhora gosta de Tatu?

O céu esteve bonito e claro durante todo aquele dia, apesar da chuva ao cair da noite. Antes da cidade de Paraíso-TO o ônibus parou. Eram mais ou menos 500 metros antes da entrada da cidade, o motorista de repente some. Todos dentro do veículo passam do semi-sono para uma realidade próxima do semi-pânico. Uma mulher na poltrona vinte, que esteve acordada durante boa parte daquela madrugada, levanta.
"- O que será que está acontecendo?", a maioria das pessoas se pergunta. Enquanto a mulher responde a pergunta com uma certa dúvida e muita calma. "Deve ser um assalto", ela diz, enquanto todos começam a se agitar. "Vou ver", ela se aproxima da cabine do motorista e não avista ninguém. E volta ressoluta para sua poltrona. "Deve ser mesmo um assalto".
Nesta hora, aqueles que tinham alguma dúvida sobre o ocorrido começaram mesmo a temer algo do tipo. Mas outra mulher [poltrona vinte e um], que durante a viagem conversou bastante com a vizinha de poltrona [a senhora da vinte], levanta e acha tudo um pouco diferente. Então ela se questiona: "Se for um assalto, então porque não entram no ônibus?". É uma boa pergunta. São quatro e cinco da madrugada e já se pode visualizar o motorista do lado de fora do ônibus carregando algo. È aí que a senhora da poltrona vinte e um direciona-se para a cabine do motorista.
"- O que aconteceu? Por que paramos?", ela pergunta ao motorista. E ele de bom humor, com um sorriso largo no rosto, afirma: "- Eu vi um tatu quando me aproximava da rodovia. Então resolvi descer. Só que o bicho é mais esperto que eu, e me deu uma carreira! haha. Pode? O bicho foi rápido, mas eu fui mais. Taquí o bicho. A senhora gosta de tatu?"
Uma risada se sucedeu as informações. A senhora do vinte e um volta para a poltrona e acalma os outros passageiros. "Esse motorista é muito engraçado". A preocupação se dissipou, e com ela a viagem seguiu até Guaraí. As senhoras do vinte e vinte e um olham estranho para o motorista que assim que encontrou um amigo, resolveu presenteá-lo com o bicho. "Uai, o senhor teve tanto trabalho pra pergar o tatu e vai dá-lo de presente?", pergunta a senhora do vinte e um, esperando pacientemente por uma explicação. A resposta que se seguiu foi esta: "Oras, é só um tatu. Depois eu pego outro".