Com lágrimas no rosto

Mais um dia primeiro passa. Será que notaram? Não, só eu costumo notar detalhes de um dia-a-dia que ninguém acha interessante. Decoro datas, locais, roupas, personagens de filmes bobos. Mas tenho um pecado. Não consigo decorar rostos. E pelo visto, aquele rosto não é mais conhecido meu. Não o reconheço. Fico o dia todo tentando lembrar como era o seu olhar quando me via alegre. Não sei se era gentil, meigo ou apenas um olhar compadecido. Não importa mais se o fogo que queimava seus olhos não percorre mais os meus sentidos. Não sinto mais. Tem hora que até consigo lembrar quando a chuva caia no chão e molhava minha calça jeans e tenis allstars desbotados. Como era estar feliz no final de um filme comercial americano, que a critica vivia dizendo que era vazio e sem conteudo, mas que eu adorava e ria atoa. Até lembrei de como era legal ser criança nos anos oitenta e escutar michael jackson sem ser brega. Ah, devo dizer que voltei a escutar e ele está no meu coração, por menos cor-de-rosa que ele esteja. Desbotei. Derramei todo o meu sentimento no chão e não consigo secar com o pano. Dudu, minha companheira, uma vez ou outra mia quando imagino que ela diz: "não fique assim. Vai passar." Mas não passa. De manhã, acordo com o pensamento longe. Como se as arvores gigantes ainda estivessem por perto, dizendo numa lingua desconhecida que protegem o homem, apesar dele as derrubar. Então é assim, destruimos o que é essencial para nossa vida e mesmo assim continuamos a sobre-viver. Quero voltar para todas aquelas nuvens, que de tão baixas, por um instante, parece que é só esticar a mão para toca-las. Voltar para um passado de menina-moça, ingenua e sem nenhuma preocupação. Porque parece que quando somos adolescentes nada de ruim pode nos alcançar? Nenhuma tristeza é totalmente triste, e todas as alegrias estão a um passo de acontecer. Sinto falta disso. De ser jovem. O bacana deste estória de crescer é que tudo o que dizemos que aconteceu pode não ter acontecido. Quem sabe que aquela história que eu contei da minha juventude perdida não foi fruto da minha imaginação? Eu sei. Alguem leu a minha mao e me disse que eu morreria velhinha. E que aquela promessa que fiz beem baixinho no pé do seu ouvido não se tornará realidade. Tenho minhas dúvidas. Mas um vidente nunca erra. O parente morreu, eu me transformei e hoje não compartilho mais sentimentos. Queria que ele tivesse lido que ganharia uma fortuna em jogos de azar. Isso seria bacana. Mas irreal. Sequei. As lágrimas que estavam aqui não sei onde foram parar. Todo dia muitos seguem perguntando se estou bem. E a única resposta que consigo dar é que estou legal. Apesar dos infortúnios. Tudo seria mais fácil se meu nome fosse ângela. Não sei. Acho que as nacionais devem sofrer menos que as nao-orientais. f.i.a.s.c.o Tudo é o que parece ser. Porém, com um requinte de crueldade que só os aborrecidos sabem proferir. Tem coisas que os pais ensinam, mesmo não dizendo que ensinam. Sou desconfiada e ironica de pai e mae. Enquanto os vizinhos escutam sertanejo, eu prefiro o velho sabbath. Um magro e feio pintcher marron de minha mae. Killing yourself to live. Maybe not.