Alguém morreu na minha quadra

Depois de dois dias minha mãe contou-me que alguém havia morrido na minha quadra. Ao se tratar de uma cidade como o Recanto das Emas, achei muito normal acontecer. Mas não pude. Era um homem de oitenta anos. Eu ignorava a existência dos seus serviços prestados à Polícia Militar do Distrito Federal. Era um policial aposentado e tinha oitenta anos de idade. Sem família, morava só em uma casa de esquina na quadra 110. Uma mulher cuidava de sua saúde e da arrumação da casa. Ela encontrou o corpo. Em poucos minutos havia se ausentado da casa para comprar leite. Quando o acontecido se abateu sobre a residência. O que torna uma pessoa infeliz? Havia uma arma na casa. E o assassino sabia onde a encontrar. Eu sempre ignorei o fato de alguém portar uma arma na minha quadra. E que, talvez, esta mesma arma terminasse com a vida de alguém. Todo manhã, ao sair de casa, eu costumava passar por aquela esquina. Nunca notei que um senhor de oitenta anos sempre se sentava num banco. Mas ao saber desta tragédia, não deixei de conferir se, algum dia, poderei rever a cena. E não vou. Esse tipo de noticia não sai no jornal. Principalmente em Brasília. Ex-policial de oitenta anos comete suicídio no Recanto das Emas. Na semana anterior uma jovem se jogou do décimo andar de um prédio, no centro bancário da cidade. Em outro, foi a vez de um rapaz fazer o mesmo, só que em um shopping. O que os torna semelhantes? Apenas o fato que todos decidiram abandonar suas angustias para os que ficam ao invés de resolvê-las sem o penar da morte. Respostas faltam a tais perguntas. Sejam elas feitas na periferia ou na capital.